JUSTIFICATIVA DO ENREDOO Bambas da Alegria apresenta no carnaval de 2023 o enredo “Onde Houver ódio que eu leve o amor” do carnavalesco Guilherme Estevão, arquiteto de formação,carioca de 28 anos, carnavalesco da Estação Primeira de Mangueira no Rio de Janeiro, com outras passagens pelo carnaval de Uruguaiana, desde 2017. Em nossa proposta de enredo, utilizaremos a trajetória de vida de São Francisco de Assis como instrumento de luta, tolerância, respeito as criaturas e exemplo para a construção de uma sociedade justa e plural. Nossa escola reafirma seu compromisso com os direitos e com um mundo mais fraterno e amoroso utilizando suas maiores vozes: a comunidade, a arte de fazer carnaval e o samba.

Estruturamos esse enredo em três momentos principais: o primeiro ligado ao processo de formação e chamado divino de São Francisco para olhar a sociedade ereconhecer suas mazelas, barreiras e necessidades de combate. A segunda passagem está ligada ao contato direto de Francisco com a as entidades naturais e acompreensão da beleza do mundo a partir do que há de mais puro e simbólico na natureza para, através dessa experiência, se aproximar de Deus, reforçar sua luta e, de fato, passar a ser reconhecimento não apenas como santo, mas como instrumento da palavra divina e exemplo de amor aos povos. Encerrando a narrativa, pelo exemplo de luta e persistência de São Francisco de Assis é possível pautar o embate por conquistas sociais, igualdade de direitos, respeito entre povos, entidades e credos, num processo de formação de um mundo com menos ódio e mais amor.

Tendo em vista o exposto, iniciamos nossa narrativa em fins do século XII, em especial em 1182, na cidade de Assis, na Itália, onde a família de Francisco cresceu e viveu, construindo negócios bem sucedidos com a produção de tecidos. Francisco era um jovem italiano sem grandes pretensões sociais, presentes em festas da alta sociedade de Assis, repleta de exageros e ostentação. Em meio a uma guerra entre cidades vizinhas, formada por Assis e Perugia, passando a integrar o exército de sua região. Foi pelo conflito e seus horrores, quase terminando na morte de Francisco, que ele recebeu o chamado divino para que transformasse a sua vida em instrumento da palavra de Deus.

É a partir da revelação, que São Francisco passou a enxergar o mundo de outra maneira, entendendo as desigualdades sociais, lutando contra a fome e a favor dos leprosos. Combate práticas da Igreja Católica e se desprendeu dos próprios bens, passando a peregrinar com mendigos em busca de suporte as necessidades dessa população. Construindo uma grande irmandade que incomodou a própria Igreja Católica a ponto de ser combatida e proibida.


Em um momento de tamanha decepção e desesperança com os rumos da religião e, principalmente, com os desmandos da Igreja Católica, Francisco recebeu um novo chamado e passou a se integrar de corpo e alma com a natureza, vivendo entre as matas e sertanias da Europa, em contato com seus “irmãos naturais”. Em um grande cântico as criaturas, Francisco começou a entender a bondade de Deus em sua plenitude a partir dos elementos da natureza, fauna e flora. É observando e convivendo com as criações mais puras do divino que se tornou símbolo da proteção dos animais e das criaturas vegetais, reafirmando seu papel como peregrino da paz, semeador da palavra e lutando por respeito a todas as entidades do mundo.

Seu exemplo de vida tornou-se mártir para sociedades e credos de todo mundo, deixando de ser apenas um santo da Igreja Católica, mas um expoente do amor e da preservação do mundo e suas criaturas. É nessa perspectiva de exemplo que o Bambas conclama, enfim, a sociedade para, a partir da trajetória de vida do santo, se unir em prol de um mundo mais justo e amoroso. No respeito as tradições e ancestralidades, na construção de uma infância mais inclusiva, educativa e justa; na luta por direitos as minorias, mulheres, LGBTQIA+, portadores de necessidades especiais; na igualdade entre as raças, seja por seu tom de pela ou local de origem; na liberdade e tolerância entre as diversas práticas religiosas. É a mobilização do mundo como cavaleiros na eterna luta pela paz através do samba e, por isso, hoje onde houver tristeza que o leve ao Bambas!