A DIFERENÇA DE BEIJO TÉCNICO E BEIJO COM AMOR

Desde criança, sempre via no carnaval as porta-bandeiras e seus mestre-salas levando as suas bandeiras para o público beijar, isto me despertou uma certa inquietação, não entendia porque algumas pessoas levavam mais a sério esta cerimônia do que outras... a dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira é algo que me encanta desde sempre, passei por vários setores de uma Escola de samba, iniciei como Rainha Mirim do carnaval de Poa/RS, fui passista mirim, destaque infantil de carro alegórico, já na fase adulta, fui Rainha, 1ª. Passista, coreógrafa da comissão de frente da Escola de samba IMPERIO DA ZONA NORTE-POA/ RS, minha escola “mãe”, mas jamais imaginei que um dia seria porta-bandeira; e também de uma das Escolas mais importantes do carnaval do sul do Brasil, ILHA DO MARDUQUE.

Tudo começou com uma indicação do Prof. Manuel Dionísio, o qual fui aluna, para substituir a grande porta-bandeira Cintia Machado na Escola de Samba Deu Chucha na Zebra em Uruguaiana/RS, ela por ter sido mãe recentemente na época, estava impossibilitada de exercer tal função, no início relutei, achava que não estava preparada, mas mesmo assim aceitei o desafio, foi um trabalho árduo de muita dedicação do casal para aquele carnaval, fomos muito bem sucedidos, atingindo 2 notas máximas e 2 notas 9,9. Para quem estava começando foi um incentivo e um estímulo muito grande para continuar com o bailado, incrível. Devido a este ótimo desempenho, o presidente imperiano da minha escola “mãe”, ADEMIR MORAES (URSO), percebeu que tinha uma ótima porta-bandeira dentro de casa, e então veio o convite, Ana Marilda estou te convocando à empunhar nosso 1º. Pavilhão, relutei, relutei e relutei para aceitar este convite, uma coisa é carregar um pavilhão profissionalmente, outra coisa é carregar o pavilhão da tua vida, mas ao mesmo tempo que temia este baita desafio, sentia que minha Escola precisava muito de mim, foi um ano muito difícil para o carnaval de Porto Alegre, naquele ano de 2015, muitas dificuldades em todos os aspectos, depois de conversar muito com minha família, e receber total apoio, resolvi aceitar, foram horas de muito ensaio com meu parceiro, grande mestre-sala JOAO CARLOS VIANA (CAIO) , viajamos até o Rio de Janeiro, para fazer um intensivo com o Prof. Manoel Dionisio, muita dedicação e perseverança, 2015 foi um ano de superação para o novo casal de M.sala e P.bandeira Ana Marilda& Caio, mas no final deu tudo certo, chegamos na avenida muito bem preparados e a nota máxima veio, 10/10/10/10.

Naquele carnaval de 2015 o carnavalesco da Império da Zona Norte era o renomado e talentoso JEFERSON LIMA- RJ que também foi o carnavalesco da Ilha do Marduque naquele ano, ele viu todo o empenho do casal Ana Marilda e Caio, e nos indicou para o carnaval do ano seguinte, 2016, para o Presidente Leandro Collazzo (Chorinha) da Ilha do Marduque, eu também receosa com tamanha responsabilidade, demorei para assimilar tudo aquilo que estava acontecendo comigo naquele momento, lembro como se fosse hoje, quando o Jeferson Lima fez a ligação para o Leandro Collazo e me colocou para falar com ele, meu Deus parecia um sonho, que naquele instante eu estava tratando a minha ida para defender o pavilhão da minha 2ª. Paixão de carnaval, que se chama ILHA DO MARDUQUE, estava desfilando na Ilha há 1 década como Passista, Musa da harmonia e de repente iria me tornar a 1ª. Defensora do pavilhão azul, vermelho e branco de Uruguaiana, e assim Deus quis, e Presidente Chorinha, com a chancela de Jeferson Lima, gratidão eterna.

Então, naquele ano de 2016, eu e Caio, contribuímos para o honroso vice-campeonato da Ilha do Marduque, conquistas duas notas máximas e duas notas 9.9. Por incrível que pareça naquele carnaval somente um casal gabaritou com as 4 notas dez, isto que estávamos disputando com casais de mestre-sala e porta-bandeira consagrados do Rio de Janeiro. Depois destes desfiles marcantes e bem sucedidos, vieram outros convites para eu dançar em escolas extremamente importantes também, em Artigas, na Escola de Samba EMPERADORES DE LA ZONA SUR, URUGUAI, em Montevideo na EMBAIXADORES DA ALEGRIA, URUGUAI, além de dançar na UNIDOS DE SÃO JOSÉ em Cruz Alta/RS e ESTAÇÃO PRIMEIRA DE SÃO LEO, São Leopoldo/RS.

Hoje, mais experiente e mais preparada, posso expressar e entender a emoção que tenho ao carregar estes pavilhões, sei distinguir quando levo o “meu pavilhão” para alguém beijar , quando é beijo técnico e quando é beijo com amor. Só quem vive esta cultura e esta paixão inexplicável sabe do que estou falando, não é apenas um beijo num pedaço de pano bordado com franjas, é algo muito maior, é algo que transcende ao entendimento de um simples folião, é algo muito sério, é algo com muito respeito, é algo que representa toda uma comunidade, toda uma nação, nossa ancestralidade, nossos baluartes do samba.

Afirmo a todos, toda vez que empunho meu pavilhão, ponho o coração nos pés!!

Vida longa ao do mundo, vida longa a nobre arte do bailado de Mestre-sala e Porta-bandeira.

Muita resiliência, muita coragem, força e fé e principalmente muita saúde para todos, para logo-logo estarmos todos juntos confraternizando a vida e cultuando nosso carnaval.

Beijos no coração!
Beijos não técnico!
Beijos com amor!
Ana Marilda Bellos, bailarina, professora de dança, porta-bandeira, com muito orgulho!!


Coluna extra de Ana Marilda Bellos.

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